Diferente

Mau poeta, eu sou,
Não há dúvidas disso.
Toda a tempestade que nos assolou,
Olhei-a com olhar submisso.

Não me sinto mal,
Mas escrevo.
Não te sinto de todo,
Mas escrevo.
Odeio escrever,
Mas escrevo.

Diferente, me chamam,
Mas diferente eu não sou.
Não gosto do Natal,
Porque lembra-me algo que acabou.

Não se atrevam a perguntar o quê,
Porque o porquê eu não sei.
Não sei se toda a gente sabe o que lê,
Mas toda a gente vê o que dei.

No dia que já passou,
Não tive medo do que pudesse ver.
Ignora o que está aqui escrito,
Porque não sou eu quem está a escrever.

Antes, mas também depois

Eu odeio as pessoas.
As que passam,
As que riem
E as que choram.
Todas!

Exagero, claro...
Onde estava eu com a cabeça?
Eu já não quero saber disso!
Odeio-vos a todos!
Com as vossas vidas miseráveis.
As vossas fantochadas e falsidades entre vocês.
A vossa arrogância ingénua que ninguém vê.
A vossa felicidade ilusória...
Mas sobretudo, a vossa felicidade.

Todos me vêm um revoltado,
Um sozinho que parece louco.
Um fracassado por vos observar.
Um maníaco que quer alguém,
Mas não o diz.
Eu vejo-me, mas não queria.

Todos mudam.
Mas ao invés disso,
Eu estrago-me.
E adapto-me:
A mim mesmo...

Deilie

Minha filha,
Saudades de estar contigo.
Saudades de te ver
E de brincar contigo.
Ou só de te ver brincar.

Tu gostas das minhas rimas,
E até dos meus acordes.
Mas para ti, o poema é livre
Porque a guitarra espera por ti,
E sabe que tocá-la, tu já podes.

Serás melhor que eu,
Em qualquer aspecto que sonhares.
Porque eu nem tempo tive
De te ver andar.
E nem ajuda precisares.

Minha filha,
Que estranha alegria que me passas.
E que pena não te ter ouvido dizer:
Eu amo-te,
Independentemente do que faças.

En-fim

Felicidades mil,
Tristezas mil,
Memórias mil.

A história é sempre a mesma,
A personalidade é sempre a mesma,
O fim é sempre o mesmo.

Estou cansado de mim,
Cansado disto
E ansioso pelo fim.

Tenho medo do mesmo,
Tenho dores do mesmo,
E perco o mesmo.

Escrevo pior,
Entristeço mais.
Respiro pior,
Mas não vivo menos.

Agora sinto que
Escrever, tenho de parar.
Adormecer,
E nunca mais acordar.

O sorriso

Hoje trocámos um sorriso.
À distância, é verdade.
Mas gostei desse momento,
Relembrou-me felicidade.

O encontro foi adiado.
Não me admira.
Com personagens como nós,
Apenas apontamos a mira.

De certeza que pensava em amanhã não ir,
Mas custa-me pensar ao reflectir.
Sinto que ficou algo por dizer,
E que a cobardia nada me deixou fazer.

Poderia, decerto, fingir,
Que não teria problema nenhum.
Digo-te que estarei lá amanhã,
Só falta saber se estarás lá tu.

O subir de escadas, amanhã

Estou cansado,
De subir as escadas da vida.
Mas desde que tu apareceste,
Tudo é mais fácil,
Como na descida.

Eu sei que sou difícil,
E que não é a melhor situação.
Mas nunca tenhas receio,
De qualquer minha reacção.

Da minha barba, tu falas.
Que julgas ser o meu escudo.
Mas, em verdade te digo,
Protege-me de quase tudo.

Peço-te que quando comigo falares,
Estejas sozinha e consciente.
Porque não te quero ver,
Rodeada de gente,
Que te perturbem a mente.

Quanto ao encontro, tenho a dizer,
Quero muito, sou teu fã.
E gostava também de te pedir,
Que este encontro seja amanhã.

Directo

Hesito ao escrever tantas palavras,
Que descrevem incertezas em poesia.
Mas não sei como lidar,
Com aquilo que eu queria.

Eu concordaria em falar,
Mas longe da multidão tenho de estar.
Os olhares alheios cortam-me a alma,
Que só os raios solares me consegue restaurar.

Lentamente

Não sei o que dizer nem o que falar,
Nem sequer sei por onde começar.
Palavras, tenho muitas na minha mente,
Que me matam por dentro, lentamente.

E por isso é que ando lento.
Por isso é que não há ninguém onde me sento.
E como não há gente e não há vento,
Não há ninguém que me dê alento.

A questão, afinal,
Faz uma diferença abismal.
Não queria chegar à fase terminal,
Sem ver algo deveras angelical.

Agora, que já consigo,
Ver o raciocínio, pelo qual me sigo,
Tenho receio do que digo,
Mas, por favor, vem falar comigo.

Último teste

Hoje fiz o meu último teste.
E portanto farei o meu último texto.
É pena que eu seja assim.
Que nos vejamos no ano bissexto.

A sombra do Sol me esconde.
E ninguém sabe onde.
O meu erro, eu o sei.
Foi o primeiro dia que me dei.

Acaba a história dramática,
Que encheu nossas vidas até ao fim
Digo-te, de forma enfática:
Desculpa, se te desiludi.
E, isto...
É da história que não sei como lidar,
Aquela que me enchia os pulmões de ar.
Aquela, que está a acabar...

Tremor

Falhanço que é a minha vida.
Fico sentado olhando-a passar.
Com a minha guitarra, sozinho.
Perguntam-me coisas, mas não quero falar.

Tremor que sinto no corpo,
Na alma e na mente.
Ninguém precisa de saber
Como o pseudo-poeta se sente.

Cobardia.
Seria?
Podia?
Iria?
Talvez nem chegue o dia.

Hesito. A toda a hora hesito.
Minto. A toda a hora minto.
Ajo que nem um cobarde.
Até o levantar da cabeça me arde.

Finalizo, e sondo.
Estrago tudo,
E escondo.

Semelhança

Pareceu-me ver luz,
Pareceu-me ver esperança,
Pareceu-me ver tudo,
Mas só havia semelhança.

Como é que me sinto?
Para além de perdido e tudo o que dizes?
Dir-te-ei que nada e que feliz eu estou,
Mas brincarei com ela,
A droga que me acalmou.

Sei que soa semelhante,
A todas as crises retratadas.
Mas não tenho culpa que a minha cabeça
Traga nuvens negras agarradas.

Ah, que solidão e falta de vida.
Que assolam a minha alma.
Pareço superior com toda a minha calma,
Mas vejo o futuro como uma descida.

Fantasias as minhas,
Hipocrisias as minhas.
Tentativas as minhas
E desilusões as minhas.

Não tenho nada em que me agarrar.
Para quê desfazer esta barba enorme?
Ela aquece-me a cara enquanto eu esperar,
Pelos beijos de alguém que ainda dorme.

Confusão, ilusão e alucinação

Quem és tu?
Perguntou-me a miúda de cabelos lisos.
Tantas ideias pesaram-me na cabeça,
E fizeram-me disfarçar com alguns sorrisos.

Reflecti.
Sem chegar a nenhuma conclusão.
Baixei a cabeça.
Tentei puxar pela imaginação.
Sorri.
Pensei em eufemismos para solução.
Parte de mim dizia confessa,
Outra dizia não sigas tanto o coração.

Confusão sobre quem sou;
Até porque não sou ninguém.
Parece que a alma vai e vem,
E não sei em que estado estou.

Na verdade, até encontro felicidade,
Quando vejo vida do outro lado.
A miúda recorda-me a simplicidade
E aquece-me a vida em cada bocado.

Mas será uma ilusão causada pela poesia?
É que era feliz quando a miúda sorria...
Sofro de pensar que ela mudaria,
Se soubesse como vivo o meu dia.

Ainda não respondi à miúda...
Mas ela aguarda a resposta, entretanto...
Ela olha-me com expectativa.
Relaciona-me com o meu canto.

Tenho tanta pena da miúda,
Por gostar de mim, que sigo torto,
Porque antes dela chegar a graúda,
Já estarei eu mais que morto.

Esquema

Ah, que bonita trança
Que aquela miúda tem.
Só que sempre que ela me vê,
Olha a minha barba com desdém.

Tenho pena que esta aparência
De velho, pobre e sujo,
Afaste as hipóteses que tenho
De te conhecer.
A tua trança, e essa tua inocência,
E a arrogância de que fujo,
Não me clarificam essa tua
Esquisita maneira de ser.

Vejo-te de uma maneira,
Leio-te de outra.
Tal como o ser, que é outro.
Tal como o imaginar, que não é nenhum.
Tal como tu, que pareces outra.

Ris-te e eu penso:
Eu vejo-te a ler.
Tu dizes o que quero ouvir,
Mas não sei o que quero fazer.

Faço isto sem razão.
Ou talvez por esta ilusão.
Eu só queria tocar naquela trança,
Ao som desta canção.

A minha guitarra grita

Eu choro,
Mas a minha guitarra grita.
Eu demoro,
Mas a minha guitarra não exita.
Eu comemoro,
Pois a verdade, a minha guitarra recita.

Solos que já criei,
São solos por onde já passei.
Harmonias que já imaginei,
Relembram simpatias que desperdicei.
Mas a música que cantei,
Jamais a reconhecerei.

A minha guitarra grita,
Mas ninguém parece ouvi-la.
Ignoram a música por ser gratuita,
E porque agrada à criança reguila.

Droga

Eu queria falar com ela,
Adormecer com a voz dela,
E sentir o corpo dela.

Queria que ela me lesse,
E que me ouvisse.
Que ela sentisse o que sinto,
E imaginasse o que eu imagino.
E que se embebedasse comigo.
Não queria que ela concordasse comigo!
Queria que fosse ela mesma,
E não a marioneta que eu levo para as minhas peças;
Muito menos a prostituta que telefono quando estou bêbedo!...
Bêbedo e sozinho...

Queria deixar o whisky, os ácidos e a cocaína,
E queria que ela fosse a minha heroína;
Assim, para além de estar na minha alma e mente,
Estava-me no sangue... Conscientemente...

Rindo, as pessoas passam

Rindo, as pessoas passam.
Irritam-me, mas nem entendo porquê.
Quanto mais elas...
E isso irrita-me mais.
Que intolerância a minha!...

Elas pensam preocupar-se,
Mas, no fim, ignoram o mudo.
É pena que o ignorado,
Seja a verdade, seja tudo.

Mas têm obrigação, eu sei.
De olhar, de se preocupar.
Esta é a grande cena!
Elas apenas têm pena!

Não há pena, nesta cena obscena...

Mereço eu esta pena?
Que cruz pesada que ele levou...
E agora, alguém pegou nela e andou...
Se foi, se é; quem foi, quem é?
Não interessa...
Não é pena que eu quero,
É obscenidade...
Desde que leve à verdade...

Se eu falar comigo mesmo

Se eu falar comigo mesmo,
Dizem que maluco eu sou.
Mas ninguém percebe o absurdo,
De quem maluco me chamou.

Ora, vejam...

Como estás desde que me falaste?
Mal, parece que me desgastaste.
Que fiz eu? Tu é que mudaste!
Que eu me lembre, tu é que o insinuaste!
Mas foste tu que não finalizaste!
Tu quase que me ameaçaste!
Pois é, mas não o fizeste... Porquê?
Se o fizesse, diria que tu me magoaste...
Porque, de facto...
Somos nós os criadores deste desastre...

Talvez depois disto tudo,
O verdadeiro maluco seja descoberto.
Não são os outros, não é ninguém;
Mas é aquele que está certo.

Eu sou aquilo que quero

Eu sou aquilo que quero,
Mas também o que não quero.
Não sou aquilo que tenho,
Mas sou aquilo que tenho.
Ás vezes até fui o que tenho,
Mas não sou o que tive.
Sinto que o fui,
Mas não o sou.
Tenho pensamentos obscuros,
Escondidos pela luz.
A luz que não existe...
O que existe; não o sei...
Talvez porque não exista...
Tu existes... mas eu não...
Porque não sei quem sou.

Deixem-se de títulos!

Ninguém escreve para complicar.
E quem escreve, pare.
Pare e pense.
Precisamos mesmo de floreados ambíguos, mas supostamente bonitos?
Palavras complexas, mas absurdas?
Rimas inúteis, mas às quais acham piada?
Parem, se não vos fizer incómodo!

Toda a gente faz rimas,
Mas nunca dizem a verdade,
Para fazer um poema não se usam limas,
Ai, mas que ansiedade!

Que absurdo, tudo isto.
Sinto-me mais feliz agora?
Agora que analiso sem saber?
Que escrevo sem saber?
Que estrago tudo sem saber?
Não! Infinitamente não!

Eu sei-o, mas sou dos poucos...
Apesar de estar tudo à vista.

Queria fazer isto de outra maneira,
Mas sou outra pessoa diferente disto,
Não sou flores, nem complicações!
Não sou rimas, nem piadas!...
Sou eu...
E não pode haver mais verdade nisto...

O papel queimado

Neste papel queimado, escrevo...
Sem motivo e sem nenhum factor que mereça explicação.
Simplesmente, escrevo.

Questiono-me:
Como me deixei queimar desta maneira?
Mais do que a própria palavra queimado?
Respondo-me:
Deixei, porque pensei que seria melhor queimado.
Deixei, porque, de facto, o papel queimado interessava-me.
E queria sentir-me como ele, queimado...

Olhando em frente, existem mais páginas queimadas.
Como o sei? Não sei.
Simples? Não sei.
Queimado? Sim.
Feliz? Não.

Que louco sou eu que falo com a minha loucura?
Que solitário sou eu que sinto a minha companhia?
Que triste sou eu que sei o caminho para a felicidade?
Que feliz és tu que me vês queimado?
Não és ninguém, apesar de seres tudo...

Afinal, até sei o meu erro.
O papel queimado, é interessante sim.
Eu? Sou interessante, sim. Mas queimo tudo à minha volta.
E não tenho nada que me ache interessante.
Apenas...
Queimado.