(Des)Organização (Parte VI)

Uma nova era nasceu.
Veio com o Limite, de repente,
Que não aguentava mais que a Organização
Poluísse toda e qualquer mente.

Pessoas escondiam-se para se reunir:
Fugiam da Organização, que nem lhes deixava rir.
Planeavam golpes para o dia a seguir:
A Organização há-de cair!

Antes desta desconfiar,
O povo pensava
Nos erros desta Organização
E em como ela os ameaçava.

Sem demora nem aviso,
Grupos rebeldes começaram a destruir
As posses daquela Organização
Sem qualquer remorso sentir.

Apesar da justiça que sentiam
Que parece óbvia e justa
Seu líder, o Limite, disse para pararem
E não se explicou, nem valia a pena perguntarem...

Entretanto, tudo piorou:
Ninguém era livre,
Viviam todos isolados e escravos
E, com sorte, talvez ganhassem uns centavos.

O povo enlouquecia, ao longo do tempo...
Eu enlouquecia, ao longo do tempo...

Ninguém percebia o Limite...
Ele tinha chegado e nós tínhamos percebido.
Porquê pararmos a luta?
Ele olhava em torno, sério...
Ele, de nós, não se tinha esquecido.
Faltava algo para ganharmos a luta...

(Des)Organização (Parte V)

Esta Organização sugou
Tudo o que cada um de nós ganhou:
Desde a simplicidade que cada um preservou,
À comida que o povo encontrou.

Vivíamos subjugados àqueles
Que inventaram esta Organização.
Fizeram-no para a população prejudicar:
Até se viam pessoas a dormir no chão.

Criaram a sua própria educação,
À base de maus tratos e obrigação.
Fechavam as mentes da nova geração.
Incutiam os pressupostos desta Organização!

Amedrontavam todos os que queriam certa profissão.
Persuadiam cada um sem lhes dar qualquer opção
E maltratavam qualquer um, sem excepção...
Maltratavam, segundo a Organização!

Drogavam-nos, injectando blasfémia na mente.
Hipnotizavam-nos com histórias de infeliz gente.
O povo estava tão pouco ciente:
Seguia à risca, a Organização demente...

Esta Organização
Destruía tudo;
Matava tudo
E não sofria nada...

O povo era o pássaro, sozinho...
A Organização, a gaiola fechada...
Até ao dia da chegada do Limite, que afirmou:
'Que Organização tão desorganizada!'.

(Des)Organização (Parte IV)

'Começarei por criar organização'-
Pensou o indivíduo da mente fechada-
'Ela trazer-me-á riqueza
E terei uma vida muito mais relaxada'.

Não demorou muito
Até todo o asilo ser destruído.
Apesar do miúdo que era,
Já percebia o que era aquele ruído.

Era a velha máquina,
Utensílio de destruição,
Mas que era admirada
Como símbolo desta organização.

O asilo passou a cidade:
Tudo o que era querido por esta sociedade.
Perguntavam a razão de toda a minha ansiedade.
Diziam para não me armar em rebelde
Porque não me dava mais virilidade.

Achava isto ridículo, agora já mais crescido,
Mas do resto, permanecia sempre fechado,
Relembrando o asilo...
Aquele, mais que alado...

Esta organização,
Tão considerada como desenvolvimento,
Tornou-se no pior alguma vez feito:
Criou somente sofrimento.

Querem que sigamos as regras da Organização.
Querem que sejamos escravos da Organização.
Querem que ajudemos a Organização a ser maior.
Mas acreditem, esta Organização só é feita
Para nos iludir e discriminar.
Para nos controlar
E nós nem sequer sabermos o que se está a passar!

Eu gritei isto, mas ninguém ouviu...
Eu escrevi isto, e toda a gente se riu.
A Organização venceu-me.
A mim e ao asilo...
Prendeu-me a ela
E sou obrigado a segui-la...

Agora entendo:
O pássaro sou eu,
E vivo dentro duma gaiola:
A Organização...

Se, pelo menos, houvesse alguém que percebesse
O que o meu canto significa, ao gritar,
Alguém sentiria o desespero que sinto
Por não conseguir voar.

(Des)Organização (Parte III)

Duas pessoas estabeleciam uma discussão acesa.
Aproximei-me, curioso.

Enquanto ainda permanecia afastado
Da área de tensão daquela discussão,
Pensei qual seria a causa desta:
Era demasiado novo para chegar a uma conclusão.

Já próximo de ambos os protagonistas,
Consegui escutar parte da conversa imunda:
Discutiam por algo que chamavam 'posse da terra'.
Parecia uma daquelas 'conversas de gente graúda'.

No entanto, pensei compreender
O que ali se passava:
Lutavam, incompreensivelmente,
Pela terra onde cada um de nós estava.

Fiquei triste e saí dali.
Fazia-me impressão toda aquela discussão
Por algo que a ninguém pertence,
Que faz parte de nós
E nos desperta a sensação.

Passados tempos depois disto,
Houve, de facto, a confirmação:
O asilo era mesmo de alguém...
Alguém que pertenceu à discussão.

Alguém que com o sorriso amarelo,
Uma gargalhada ambiciosa
E papéis coloridos,
Celebrava esta 'vitória' ociosa.

Em seguida, a vitória patética não lhe bastou:
Usou o seu cérebro muito pouco são
E criou aquilo a que chamou:
Organização.

(Des)Organização (Parte II)

Retirei-me, em busca de paz.
Saí do abrigo de casa.

Deparei-me com um conjunto maravilhoso
De cores, relevos e beleza.
Admirado, mirei com atenção todo e qualquer pormenor.
Nunca tinha visto perfeição com tanta clareza.

Pensei em perguntar a alguém
Do que se tratava tudo aquilo
Mas lembrei-me do pássaro
E temi uma resposta negativa sobre aquele asilo.

Não havia falhas ali:
Uma bola em chamas fornecia-nos energia,
Uma brisa desconhecida transparecia equilíbrio
E o verde que via
Alegrava-me o dia...

Rodeado por tudo isto
E ao desconhecer isto tudo
Pensava, ao viajar,
Que nome lhe deveria dar.

Voltando a olhar este conjunto maravilhoso
De cores, relevos e beleza;
Ouvi tudo isto a apresentar-se:
Chamava-se Natureza...

Prossegui mirando; sentindo
Toda esta energia passada até mim;
Até que vi lá no fundo,
Algo que não fazia sentido ali...

(Des)Organização (Parte I)

Olho para aquele pássaro;
Preso, na gaiola, sozinho...

Busco o porquê de tal acontecimento...
Confundo-me, pois apenas sou uma criança...
Humano e pássaro;
Não percebo esta aliança.

Na minha tenra idade e ignorância,
Parece-me ver sofrimento no pássaro.
Porém, os adultos intervêm;
Dizem-me que lhe dou demasiada importância...

As minhas ideias de miúdo estúpido:
São falsas por definição.
Portanto, não liguem ao miúdo parvo,
Mesmo que ele tenha razão!

Voltando ao pássaro, que dizem cantar,
Acho que, na verdade, está a gritar.
Porque todo este desespero o está a incomodar,
Para além do facto de não poder voar.










'O Pássaro ', por Leonor Carboila

Ferida

Tudo mudou.
O dia-a-dia,
O comportamento
E a forma como sorria.

Quando minha vida necessitou de mudança,
Recebi falsas preocupações de todo e qualquer interveniente.
Agora que o tempo passou e já não tenho esperança,
Só falarão comigo se lhes for conveniente.

Solidão, é o que me intersecta a vida,
E é o acelerador na descida.
Abandono, foi o que me ofereceram,
As pessoas que nunca, na vida, me leram.

Tenho noção do egoísmo que transparece em mim,
E do vazio e loucura que me invadem a alma.
Finjo não parecer mal, estando sozinho;
Olho para o que me rodeia, com calma.

Pouco me ajuda neste caminho,
Armadilhado por vocês.
E nem se aperceberam...
Que enquanto me vêm aqui sozinho,
A procurar felicidade, talvez,
Me magoaram na ferida
Que vocês próprios esconderam.

Psicadélico (Parte I)

Submerso em cores,
Eu quero e vou estar!
Louco e inconsciente,
De tudo o que se está a passar.

Verei coisas; as que quero ver.
Dirão que são mentira; e que as devo temer.
Mas serão as únicas que não me irei esquecer;
Esperemos todos!
Tudo o que vir, irei escrever.

Elefantes, mantas, pássaros e máquinas:
Fundir-se-ão no dia que esperamos.
Perdido estarei, com tudo a rodear-me.
Até que ela apareça e me diga onde estamos.

Será que chegarei à conclusão
Do que é real ou uma ilusão?
Será que serei forte o suficiente
Para eliminar isto antes que me mate de repente?
Irei viver esta confusão,
Ou sonhá-la com organização?
Ideias penetram-me a mente enquanto vejo
O sonho psicadélico, o qual desejo.

Controlo

Alma vazia,
Mente sombria.
Falta de alegria,
Disfarçada por euforia.

Pena pesada, esta que me assola
O quotidiano, a cada passo na vida.
Perco forças e pioro minha conduta.
Por favor, não me dêem mais comida!

Distribuam-na por alguém melhor,
Com mais vontade de viver.
Alguém que não eu,
Que lentamente, está a morrer.

Preciso de me isolar do resto.
De tudo que exista.
Deixar-me sozinho na loucura,
Antes que mais ninguém lhe resista.

Mas quando eu perder o controlo,
O meu estado mais são se revelará.
Meu corpo estará longe,
Mas a minha alma ficará.