Pintura

Pinto pinturas perdidas,
Passo paisagens paradas,
Piso pegadas passadas,
Pronuncio palavras pesadas.

Que jogo feio no qual entrei
Que impotência estranha inventei.
Que fraca história contei
Naquela pintura que pintei.

Pedaços de folhas escritas
Afogam-me no dia seguinte.
Mas apenas me mataram no dia anterior.

Óbvio será dizer
Que já nada está a fazer sentido.
Mas isto seria fácil de perceber
Se a história da pintura tivessem vocês lido.

(Des)Organização (Parte IX)

Não sabia que reacção esperar
Mas esperei, a pensar sozinho:
'Sou alvo de olhares estupefactos
De todo e qualquer Zé Povinho.

O que lhes vai na mente neste momento
Para mim, uma incógnita é.
Mas se essa mente fosse um carro
Apenas andaria em marcha-ré.'

Neste momento de expectativa,
O que reina é a incerteza.
Enquanto a cronologia avançava
O olhar aumentava em frieza.

No momento curto em que estou
Entre a espada e a parede,
O povo, a morrer de sede,
Decidiu enfiar-nos na rede
A que Morte chamou.

Pedras choveram,
Gritos soaram
E balas voaram!

Chocaram contra o meu corpo;
Perfuraram-no...
O sonho distante da mudança?
Mataram-no...

Pouco sofri, pouco vi e louco estarei,
Porque rapidamente do corpo voei.
Passado segundos me recuperei
E logo comecei:

'Olho para aquele pássaro
Preso, na gaiola, sozinho.'

Olhava para aquele pássaro, sozinho,
Que preso na gaiola estava.
Escrevi o que me aconteceu em corpo
Porque a esperança me conquistava.

Finalmente, este dia chegou!

Espero que, agora,
Já que o meu canto não resultou,
Que a minha obra mostre
O sofrimento que me matou...

E que já não seja preciso gritar,
Para se conseguir voar!

(Des)Organização (Parte VIII)

Pouco percebemos da explicação
Que o Limite nos deu;
Mas sabíamos que foi algo único
E que ainda não morreu.

Sem explicação possível,
Por algo, todos esperávamos;
Mas apenas o Limite sabia o que era,
E nele, nós confiávamos.

De facto, não foi preciso
Prolongar em demasia a espera...

Em pouco tempo, começaram a ser retratadas
As chamadas 'Catástrofes Naturais'
Que destruíam tudo e todos,
Principalmente as famílias mais 'reais'.

Tornados, Terramotos e Erupções,
Mostravam o desequilíbrio terrestre
Causado pelo Ser Humano
Que até tem outros animais naquilo que veste.

A Organização estava a ruir
Porque as suas posses estavam a desaparecer.
E o povo, tornado egoísta pela Organização,
Já nem disso queria saber!

Desta vez, a miséria assolou a todos,
Até aos líderes da Organização!
O povo revoltou-se novamente:
A fome gritava juntamente com o coração.

Motins invadiam as ruínas das cidades,
Pessoas pilhavam tudo o que viam!
Não queriam saber de mais nada nem ninguém,
Queriam estar entre aqueles que sobreviviam.

No meio de toda esta loucura,
O nosso fraco grupo saiu à rua.
Queríamos acalmar toda a população,
Convencê-la para parar esta confusão.

Afinal, estas catástrofes
Mostram a Natureza a tentar
Se equilibrar.
Afinal, isto é uma oportunidade
Para cada um de nós tentar
Recomeçar.

Eu gritei na rua:
'Isto é a Transformação, isto tem que mudar!'
Ficaram todos imóveis, a olhar...
Nesta altura, já não sabia que reacção esperar...

(Des)Organização (Parte VII)

O povo já não acreditava no Limite
Nem nas pessoas que isto escreveram...
Perdíamos apoiantes ao longo do tempo:
Todos eles se venderam!

Foram sugados pela Organização,
Foram drogados pela Organização,
Foram comprados pela Organização!
E tal como todos os que se vendem
Ficam presos ao dono que nem um coitado cão!

É pena que hoje em dia
Ninguém se importe com isto.
O que importa é ter tudo
E não se preocupar com nada!

Sinto um vazio cá dentro
Por não haver ninguém que esteja comigo.
Mas é certo que me chega quem ainda ficou:
O Limite e alguém chamado 'Mendigo'.

Certo dia, algo surgiu no meio da dor.
Algo fora do comum...

O Limite sorriu, ao falar:
Pediu-nos para o acompanhar...
Até que chegámos a um paraíso
Totalmente rodeado de mar...

Estava uma noite sombria
E o Limite pediu que para a Lua olhássemos.
Ao obedecer, notámos em algo inacreditável:
Um prisma reluzia milhões de cores,
Era normal que, naquilo, não acreditássemos.

Era surreal, abismal e mais que especial!
As cores rodeavam-nos e faziam-nos viajar
Por sítios inimagináveis...
Em nada conseguimos, sequer, pensar.

Mesmo que tente, não conseguirei precisar
Quanto tempo ali permanecemos.
Mesmo que quiséssemos explicar,
Nem isso, sequer, conseguiremos.

Procurámos explicações com o Limite,
No final desta natural alucinação.
No fundo, acho que tínhamos percebido,
Mas precisávamos, ambos, da grande confirmação.

Foi então que olhámos para o Limite
Que nos disse de forma triunfante e ciente:
'Aquilo, meus irmãos,
Foi o Antecedente!'