E eu sinto-me bem

Esta caixa está quase vazia: tudo o que ele foi amontoando com as esperanças bem lá em cima, como qualquer miúdo da sua idade, estão a desaparecer a pouco e pouco; e apesar desta caixa ainda estar minimamente composta, este pobre miúdo já se sente louco.
Louco pelo que aconteceu, pelo que ainda está para acontecer, pelo que sentiu e o que sabe que ainda vai sentir. Este miúdo está louco e já não sabe para que lado se virar, se bem que nos pareça óbvio que ir em frente é sempre uma melhor solução do que procurar um desses lados escondidos e complicados.
Ao observar este nosso personagem, que agora chora enquanto ouve uma dessas músicas meio blues meio jazz, nota-se uma tristeza que contaminaria qualquer outro emaranhado de energias em que se inserisse; mas isso nós não queremos, por isso é que o observamos de longe. O telefone toca. Com, poderá dizer-se, alguma dificuldade o nosso garoto interrompeu este novo som que invadia a sala já confusa com aquela mistura invulgar de ondas sonoras, atendendo a chamada. Quem estava do outro lado do aparelho comunicativo acho que nunca vamos saber, pois pelo discurso lento e pouco falador do nosso protagonista, pouco se pode perceber quanto ao que, na realidade, se está a passar. Mas o que já se tem a certeza é que o telefone já está pousado, e o miúdo chora, quase sem conseguir respirar. Que dor esta. Se esta dor nos afectasse da mesma maneira que afecta a este miúdo estaríamos todos agarrados ao peito a tentar procurar que parte de nós lá falta.
Este choro e esta dor vão-se intensificando com a música, quase acompanhando-a como se de propósito fosse, e nada mais estranho poderia estar a acontecer, pois esta música tem de tudo, menos tristeza.

1 comentário: