Eu sempre tive ídolos

Eu sempre tive ídolos. Sempre tive aquelas pessoas que me faziam achá-las perfeitas, nem que fosse numa só característica delas mesmas. Mas eram perfeitas. E, apesar dos nossos raciocínios conseguirem fazer com que essa perfeição já não seja tão clara aos nossos olhos, ela está sempre lá. Mas a razão pela qual me infiltro totalmente nesta minha reflexão não é esta. Escrevo isto porque ainda hoje consigo ter novos ídolos, apesar de todos os ídolos que fui tendo já não serem tão claros para os meus olhos como outrora o foram.
Uma das coisas interessantes nesta conversa é o facto destes meus ídolos me fazerem sentir um pouco de inveja quando contacto com eles. É interessante, mas também repugnante… Ter inveja é horrível, e se calhar por isso é que decido chamá-los de ídolos e não de ‘as pessoas que me fazem sentir inveja’. E não me interpretem mal, eu não me tenho em má conta. Isto é, eu não tenho inveja deles por me achar algo desprezável junto a essas mesmas pessoas, mas sim porque há algo neles que é perfeito, e eu não consigo atingir isso. Aliás, neste momento, acho que, não só não consigo atingir, como nunca conseguirei. 
O bom disto é que, apesar da inveja, isto não me deixa triste. Nem desapontado, nem desiludido, nem nada que se pareça. Eu começo a gostar disto ser assim, sou sincero. Começo a gostar de admitir que tenho muitos ídolos, e muitos deles são pessoas que lidam comigo todos os dias. Dão algo de si ao mundo e cá estou eu para os admirar, para achar especial alguma coisa que eles nem se apercebem que têm. Para achar isso perfeito. Admito que nem sempre é fácil admitir-se que achamos perfeito algo em alguém, e quando digo isto falo de admitirmos para nós mesmos, cada um de nós. Há sempre um pouco de inveja a querer comparar as pessoas, comparar entre nós mesmos e os nossos ídolos. Mas sem nós, eles talvez não fossem ídolos de ninguém. Lá porque não vemos alguém a admitir para si mesma e para o mundo que nós somos um dos seus ídolos, não significa que não sejamos realmente o ídolo de alguém ou que não tenhamos algo de perfeito para alguém parar e dizer ‘uau, que cena tão perfeita que esta pessoa foi, ou é, ou vai ser’. Portanto, não vale muito a pena pensar-se na inveja e nas comparações, mas sim no velho cliché do seres tu próprio, porque penso que só aí se descobre a nossa perfeição e só aí alguém vai parar para ver essa perfeição. E nunca nada é perfeito em tudo, nem nunca nada é horrível em tudo. É só pensar-se na inveja: quão horrível ela é por me diminuir, mas tão perfeita por me fazer idolatrar os outros e as suas perfeições.

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