Ninguém vê

Ouve-se vozes a ecoar por toda a sala. A sala está vazia. Vê-se no distante horizonte um aglomerado desorganizado de cores: algumas ainda nem sequer são distinguidas por todo e qualquer olho humano. Na verdade, o que a Física nos diz é que este tipo de cores nem sequer existe, ou, se existe, não faz parte do que é suposto um ser humano ver. Pura ignorância, pensou ele. Eu estou a vê-las, gritou bem alto: e todas as vozes se calaram. Olhou em redor, nem uma pessoa se avistava. Esta é que seria uma grande discussão para os Físicos, porque afinal a sala sempre esteve vazia.
Ao contrário daquilo que poderiam estar à espera, ele nem se mexeu. Continuou, deslumbrado, a olhar para aquelas cores nunca antes vistas, ou talvez vistas tantas vezes por pessoas sem o discernimento necessário para se aperceberem da sua existência.
Quer comer? Sim, estou a vê-las. Está maluco, deixem-no estar. Já disse que estou a vê-las!
Deixaram-no estar. Dezoito anos depois, ele ainda está vivo, e está a olhar para as mesmas cores, a bater o pé, e a dizer que está a vê-las. Ninguém as vê, isso é certo, agora não sei quem estará maluco, se eles ou eu.

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